maio 28, 2006

POR QUE A CHINA CRESC MAIS QUE O BRASIL?

JORGE GERDAU JOHANNPETER FOLHA 28/05/06
Países com poupança em torno de 20% do PIB, como o Brasil, não conseguem crescer mais de 2,5% ao ano
TODOS OS dias, jornais estampam notícias sobre o crescimento econômico da China, sob os mais diversos enfoques. São produtos que ganham espaço no mercado, movimentos setoriais de consolidação para aumento de escala ante a competição global e definições de política monetária, entre outros temas. No entanto questões estruturais, que justificam as diferenças entre o desempenho econômico do Brasil e da China, merecem uma análise mais aprofundada.
Evidentemente são países muito diferentes -do ponto de vista cultural, social e político. Entretanto a equação para o crescimento é comum para ambos e passa por investimentos em inovação tecnológica, acúmulo de capital humano e eficiência dos investimentos públicos e privados.No entanto pouco se explora a relação do aumento da poupança com o crescimento sustentável dos países.
Estudos do Banco Mundial apontaram que países com poupança ao redor de 20% do PIB não conseguem superar a barreira de 2,5% de crescimento econômico por ano. Esse, sem dúvida, é o caso do Brasil. Estamos amarrados ao baixo nível de poupança. Por mais de 20 anos o percentual médio de crescimento do PIB tem sido de 2,5%, enquanto a poupança tem atingido níveis abaixo de 20% do PIB. Desse total, a poupança privada interna situou-se em cerca de 19% e a externa variou de 5% a -1% no período.
É a poupança pública que explica parte da diferença na performance entre os dois países. A contribuição do Estado brasileiro para a poupança nacional, nos últimos 20 anos, tem sido nula ou até negativa, com o setor privado transferindo recursos para o governo. A forma de financiamento desse déficit do governo, por meio de pesada carga tributária e de elevados juros, onera os setores produtivos e emperra o crescimento.
Uma referência teórica para estimarmos o crescimento econômico mínimo necessário no Brasil é a taxa de crescimento da população economicamente ativa, que, desde a década de 80, tem sido ao redor de 3% ao ano. Some-se a isso o aumento da produtividade industrial e agropecuária, no mínimo, de 1% ao ano, que reduz a necessidade de mão-de-obra, e o crescimento anual da economia capaz de absorver todas essas pessoas deveria ser de cerca de 5%
A China, hoje, tem poupança superior a 45% do PIB, o que viabiliza taxas médias de crescimento de 9% ao ano. Os patamares de poupança pública alcançam 10%, e a poupança privada, interna e externa, responde por mais de 30%. Como resultado, há elevados investimentos em ativos fixos e incentivos para a atração de investimentos externos diretos.No Brasil, a saída é transformar a gestão do setor público. É preciso aumentar a eficiência dos governos, ou seja, fazer mais com menos, gerindo as despesas de forma a desonerar as contas governamentais. É importante que decisões sejam tomadas para corrigir problemas estruturais, escapando de armadilhas decorrentes da histórica condução de políticas econômicas.
Por exemplo: deveria haver uma meta de poupança pública em relação à arrecadação, assim como existem percentuais estabelecidos de destinação de recursos para a educação e a saúde.Enquanto os congressistas e os candidatos à Presidência não se conscientizarem disso, só medidas paliativas continuarão sendo tomadas. O Brasil precisa superar o nível de 20% de poupança sobre o PIB e atingir patamares de 25% a 30%. Para isso, é fundamental criar consciência coletiva clara sobre o caminho que o país deseja seguir, capaz de gerar crescimento e empregos.
JORGE GERDAU JOHANNPETER, 69, é presidente do Grupo Gerdau, presidente fundador do Movimento Brasil Competitivo (MBC) e coordenador da Ação Empresarial.